segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Buiu e a concretização de um sonho

Escrito por Priscila Pires
O garoto pode ser conhecido como PC, Buiu, Brutus, mas gostaria mesmo é de ser chamado logo de bico – como os motoristas de ônibus se conhecem entre si. Crianças sonham com uma boneca Barbie, uma chuteira, ir a um parque de diversões, ou até um celular, no entanto nosso Buiu, de 12 anos, queria mesmo é dirigir um ônibus, e conseguiu.
Buiu não fugiu de casa. Saiu para ir atrás de seu sonho. Embora viver afastado da família seja um desafio muito grande para uma criança, ele sabia que podia voltar para a casa de sua mãe se quisesse; ela o acolheria em qualquer situação. Com esse “apoio”, Buiu passou meses vivendo em garagens de ônibus e como a maior parte dos jovens, ele aprendeu com facilidade, às vezes só observando, a dirigir e a fazer pequenos reparos em ônibus metropolitanos. Além disso, ele era conhecido e tinha amizade com os motoristas, cobradores e mecânicos.
Em um fim de semana, logo após o dias dos Pais, PC, inconsequentemente, entrou, de madrugada, em um ônibus vazio da viação São Judas, que já estava próximo da garagem companhia, na Zona Leste de São Paulo. Pegando o “carrinho” emprestado (mas sem pedir a ninguém), durante 4 horas passou por vias como a Marginal Tietê e a Radial Leste, e por fim foi parado por policiais. Assustado, o menino bateu o ônibus, mas ninguém se feriu.
Agora o aspirante a bico, todo orgulhoso por sua habilidade e pela concretização de um sonho, tem que responder à justiça pela brincadeira como um menor infrator. Como todo menino que apronta com o vizinho e é pego, a mãe chega em seu socorro: ela procura as autoridades da Fundação Casa para que seu filho saia antes dos 15 dias que recebeu como pena.
O pai deste garoto era motorista, separou-se da esposa e se afastou da família, mas foi difícil para Buiu aceitar. O garoto começou a se interessar pelo transporte viário para preservar a lembrança do pai, e saiu guaindo aquele ônibus porque ouviu boatos de que o pai estaria trabalhando em uma garagem em São Bernardo. Contudo, quando o menino já estava atrás do volante, mudou de idéia. Talvez, esta mudança, tenha sido a descoberta de que a melhor herança de seu pai foi a admiração do garoto por motoristas de ônibus, e as amizades que fez nesse meio, e dessa maneira foi preenchido o espaço vago que um pai deixou no coração de primogênito ao ir embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário