terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mercadão da Lapa e uma experiência pessoal

Escrito por Priscila Pires
Em uma manhã de sábado sai com alguns amigos rumo ao Mercadão da Lapa, na zona oeste de São Paulo. Dei uma pesquisada sobre sua história, e então parti para o local em busca de tipos humanos, comidas exóticas e bons preços, ou seja, tudo que me inspirasse a escrever um bom texto sobre o local.
Ao chegar, estava empolgada, mas ao mesmo tempo, um pouco receosa. Era a minha primeira saída com bloco e caneta na mão. Não sabia se estava preparada para fazer perguntas e ouvir “nãos”, então prefiri acompanhar os outros potenciais repórteres.
Não precisei andar muito para que as novidades aparecessem. Conheci uma semente crocante,tremoço: ela é mais popular na Europa, apreciada como petisco, e até um tanto perigosa: sem estar cozida, contêm alcalóides, que danificam o fígado humano. Conheci o doce de Buriti, fruta típica de regiões quentes, em especial o norte e o nordeste do Brasil, e o tempero Ajinomoto, que intensifica o sabor dos alimentos, mas que por não ter fermentação natural, mas por glutomato monosódico, que, em 1960, foram conhecidos por um nome curioso: Síndrome do Restaurante Chinês, por uma série de sintomas como enxaqueca, variações de humor, rigidez muscular, e ondas de calor, mas este mito foi desmentido.
Enquanto passávamos pelos corredores do Mercadão, percebia que muitas crianças acompanhavam os pais, e pareciam tão curiosas quanto eu. Lembrei de mim mesma, a menos de 5 anos atrás, quando ainda acompanhava minha mãe e meus avós ao Mercado Municipal do meu bairro, onde comprávamos queijos, carnes e peixes, comia um pastel, cumprimentávamos os atendentes que já nos reconheciam....mas vamos sair das minhas memórias e voltar ao Mercadão da Lapa.
Fomos conhecer uma loja de ervas. Não havia prateleiras separando-as, então o cheiro de camomila se misturava com o cheiro do manjericão e o do eucalipto, e as ervas de banho estavam espalhadas entre as ervas para chá. Fiquei curiosa para saber mais sobre a Losna, a planta do absinto e a Cavalinha. Ambas podiam ser encontradas no Box 58.
Em um site que acumula conhecimentos milenares, o “Google”, descobri que a Losna é boa para problemas de vermífugos e estomacais. Consumida normalmente em forma de chá, não pode ser bebida indiscriminadamente, pois possui uma substância causadora de convulsões, tonturas e delírios. Contudo, os mais rebeldes, como Baudelaire e Van Gogh, eram viciados em seus efeitos alucinógenos.
A Cavalinha, esta erva é a mãe de todas as outras. Sua história é muito rica. Primeiro, porque surgiu no período paleozóico, antes das baratas. Depois, descobri que seu caule oco era usado por pastores para confeccionar uma flauta que estes julgavam capaz de espantar serpentes. Suas propriedades medicinais, se consagraram na Roma Antiga, quando usava-se a cavalinha para tratar problemas respiratórios e infecções urinárias. Como eu disse, sua história é rica e cheia de mitos, atualmente acredita-se que se ingerida em altas doses por grávidas, pode ser abortiva, porém não posso estender demais o assunto. Vou concluir com a propriedade medicinal mais interessante para as mulheres: há receitas de não-ingestão para prevenir estrias, limpeza de pele, dar brilho aos cabelos e fortalecer as unhas.
Passei por uma peixaria com um aquário de frente, do lado dos passantes, pela vitrine de um açougue com grandes línguas de boi expostas e cheguei a uma das tabacarias do Mercadão. Não havia nenhum cliente, apenas os dois atendentes. Não conseguia desviar o olhar de três sacos com uma espécie de corda enrolada, aparentemente bem úmida, me aproximei e li em uma plaquinha próxima a um dos sacos: “fumo de corda forte”,  – “Senhor, para que serve fumo de corda?” - perguntei ao atendente mais velho que me respondeu de um jeito que me indicava que ele era o proprietário do Box: - “Serve para fazer cigarros de palha”.
Interessante, nunca tinha visto nem ouvido falar de tal coisa! Estou impressionada até agora e adoraria ver alguém fazer um cigarro desses ali, na minha frente. Sei que meu bisavô fumava, mas meus avós nunca comentaram nada sobre fumo de corda. Acredito que não foi por omissão, ou por terem lembranças ruins ao recordarem de tal coisa, nem nada assim tão dramático e misterioso, mas só porque nunca houve um assunto em nossas conversas que os levasse a comentar sobre o tal fumo.

Ainda passei com uma colega por uma cachaçaria. Enquanto caminhávamos pelo Mercado, ela decidiu presentear ao pai com uma garrafa de cachaça. Você sabia que esta bebida é diferente de pinga? Bom, para mim, leiga demais quanto a bebidas alcoólicas, era a mesma coisa, mas um atencioso vendedor nos explica que pinga é Ypióca e 51, feitas industrialmente. Cachaça pode se considerar mais artesanais, pois recebem tanta atenção quanto os vinhos, , com gosto e coloração diferente para cada tipo de madeira utilizada para confeccionar o barril em que ficarão armazenadas, e tendo seu sabor aguçado espontaneamente pela ação do tempo.

Dez para o meio-dia. Eu e a mesma colega, aquela que comprou a cachaça para o pai, encontramos algumas pessoas do nosso grupo paradas em frente a uma pastelaria, e ao checar as horas, a fome apareceu como mágica. Uma mesa ficou livre e então os demais colegas do grupo foram chegando e se sentaram conosco. Conversa vai, conversa vem. Comunicar-se, senão é a primeira, está entre as três maiores necessidades, além de ser tão natural ao Homem. O futebol teve destaque entre os assuntos, e o estopim foi o Mercadão receber Ademir da Guia, naquela mesma tarde. Era um famoso jogador aposentado pelo Palmeiras, candidato a deputado estadual nas eleições de 2010.
Mesmo que não gostasse muito do assunto, não tentei mudar o rumo da conversa. Aquele era um momento único, a primeira vez que todos deixavam de conversar sobre questões relevantes, escritores e jornalistas literários e podíamos jogar conversa fora, literalmente. Nem me lembro de tudo que foi dito. O importante não era o conteúdo, mas a informalidade e a descontração. Comentar sobre o cotidiano, o trabalho, casos absurdos de amigos, relacionamento e futebol...Descobrir a sentimentos idênticos nos outros em a relação às mesmas coisas.
Sob um olhar prático, foi como um dia qualquer em um mercado qualquer. Comprar guloseimas, um pouco de surpresa com novos produtos, descansar os pés e almoçar algo longe de ser saudável como a comida caseira. Porém, na perspectiva puramente prática falta um pouco de ilusão, da beleza da subjetividade. Encontrarei equilíbrio entre os dois “editando o que meu coração me dita”, como disse, certa vez, Paulo Leminsky. Foi uma das experiências mais interessantes e estimulantes que já tive, espero não esquecê-la, mas me preparo para momentos ainda melhores. Esse é apenas o começo. Também não garanto que se você visitar o Mercadão da Lapa vá se sentir tão bem e surpreso como Eu. Mesmo assim, vale encorajar, e dizer que experiências são relativas, e essa foi a minha, então prepare sua carteira, faça sua rota, e abrace a idéia de conhecer os Boxes, os passantes, os vendedores, e os produtos o Mercadão você mesmo, de mente aberta, sem expectativas e idéias pré-concebidas. Se você encarar dessa maneira, sairá sem dúvidas, com algo novo, uma idéia, um sentimento, ou uma boa recordação para si.

Buiu e a concretização de um sonho

Escrito por Priscila Pires
O garoto pode ser conhecido como PC, Buiu, Brutus, mas gostaria mesmo é de ser chamado logo de bico – como os motoristas de ônibus se conhecem entre si. Crianças sonham com uma boneca Barbie, uma chuteira, ir a um parque de diversões, ou até um celular, no entanto nosso Buiu, de 12 anos, queria mesmo é dirigir um ônibus, e conseguiu.
Buiu não fugiu de casa. Saiu para ir atrás de seu sonho. Embora viver afastado da família seja um desafio muito grande para uma criança, ele sabia que podia voltar para a casa de sua mãe se quisesse; ela o acolheria em qualquer situação. Com esse “apoio”, Buiu passou meses vivendo em garagens de ônibus e como a maior parte dos jovens, ele aprendeu com facilidade, às vezes só observando, a dirigir e a fazer pequenos reparos em ônibus metropolitanos. Além disso, ele era conhecido e tinha amizade com os motoristas, cobradores e mecânicos.
Em um fim de semana, logo após o dias dos Pais, PC, inconsequentemente, entrou, de madrugada, em um ônibus vazio da viação São Judas, que já estava próximo da garagem companhia, na Zona Leste de São Paulo. Pegando o “carrinho” emprestado (mas sem pedir a ninguém), durante 4 horas passou por vias como a Marginal Tietê e a Radial Leste, e por fim foi parado por policiais. Assustado, o menino bateu o ônibus, mas ninguém se feriu.
Agora o aspirante a bico, todo orgulhoso por sua habilidade e pela concretização de um sonho, tem que responder à justiça pela brincadeira como um menor infrator. Como todo menino que apronta com o vizinho e é pego, a mãe chega em seu socorro: ela procura as autoridades da Fundação Casa para que seu filho saia antes dos 15 dias que recebeu como pena.
O pai deste garoto era motorista, separou-se da esposa e se afastou da família, mas foi difícil para Buiu aceitar. O garoto começou a se interessar pelo transporte viário para preservar a lembrança do pai, e saiu guaindo aquele ônibus porque ouviu boatos de que o pai estaria trabalhando em uma garagem em São Bernardo. Contudo, quando o menino já estava atrás do volante, mudou de idéia. Talvez, esta mudança, tenha sido a descoberta de que a melhor herança de seu pai foi a admiração do garoto por motoristas de ônibus, e as amizades que fez nesse meio, e dessa maneira foi preenchido o espaço vago que um pai deixou no coração de primogênito ao ir embora.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

vo(z)cê!?

Depois de uma frustrada espera por um telefonema, decidi escrever, já que vejo mais futuro e funcionalidade nessa maneira de comunicação. Acho que talvez seja pela herança deixada pelo povo antigo a respeito de o papel ser documento respeitado e seguido e palavras ditas, o vento leva. Sendo ou não por influência, a vontade de escrever supera qualquer tentativa de explicação. Como protagonista você aparece quase sempre em meus pensamentos, invade todo o sistema e parte em um minuto de lucidez, passou, a rotina retomada em mais um dia de serviço que me controla e molda as cenas dos próximos capítulos. Eu já nem me reconheço mais. Sou tantos, tantas, tudo o que pensam de mim, e essa parte me encomoda a ponto de causar em mim um arrependimento. Poderia eu ficar em silêncio, a ânsia passaria, aquela vontade cessaria, eu só teria de ficar muda, parada, estagnada e assim como tudo passa, o meu entusiasmo daria lugar a serenidade de quem estreiou apenas uma vez na vida.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Linha Tiradentes-Esperança

Um ônibus vazio está circulando em alta velocidade na Avenida Ragueb Chofi, zona leste paulistana. A polícia inicia uma perseguição após receber uma denuncia de que o mesmo havia sido roubado algumas horas antes na parada final da Estação Tiradentes. Ate então, um fato nada fora do comum em uma cidade como São Paulo, imersa em um caos urbano e social que nos faz perder as contas de tantas atrocidades que acabam se tornando banais aos nossos olhos.

O assaltante, ao perceber o avanço policial em sua direção, perde o controle do veículo e colide com outro ônibus, por coincidência ou destino, pertencente à mesma companhia do veiculo furtado. Com a situação sob controle, os policiais efetuam a prisão do assaltante.

Porém, a surpresa se dá no exato momento da prisão. O criminoso é reconhecido pelo motorista do outro ônibus envolvido na colisão. Ele não trabalhava lá, é apenas conhecido por todos os funcionários da companhia, sendo chamado de Buiú pelos mesmos.

Outro fato nada absurdo, alguém se aproveitar dessa situação favorável de confiança para poder cometer um crime.

Até aqui, temos simplesmente um assalto relatado de maneira crua e direta, sem nos envolvermos em causas e conseqüências provenientes do fato. Mas qual seria sua reação se soubesse que Buiú é o mais velho de cinco irmãos e vem de uma família pobre da periferia de São Paulo? Provavelmente nenhuma diferente da reação inicial.

Ao ser encaminhado para o 54º Distrito Policial, Buiú é encaminhado a uma UAI (Unidade de Atendimento Inicial) da FEBEM, ficando na companhia de criminosos do mesmo calibre como assassinos e estupradores, até que aguarde a chegada de uma responsável, por se tratar, obviamente, de um menor de idade.

Creio que agora essa história possa chamar mais atenção, pois, pelo que temos até agora é a prisão de um menor chamado Buiú, de origem humilde, que roubou um ônibus e foi preso. Um roubou premeditado, pois foi reconhecido por uma das vítimas.

Sua mãe, Silvia Ribeiro da Silva, vem ao seu encontro após seis dias preso. Não esperava que seu filho fosse ir para o lado da criminalidade. Ainda mais depois que seu marido abandonou a família, esperava que o mais velho honrasse as funções de homem da casa.

A diretora da unidade, Sonia Cesário, percebe que o assaltante está emocionado ao ver a mãe reprovando sua atitude e assim entendendo a gravidade do que fez.

Prometendo voltar aos estudos, Buiú sonha em ser um motorista de ônibus assim como o pai. Confessa que o motivo do roubo era saber do paradeiro do pai, que não tinha contato há mais de cinco anos. Ao saber de uma pista da possível localização dele, Buiú e aproveitou-se de uma distração do motorista no Terminal Tiradentes, durante uma parada e furtou o veículo.

O término da história nós já sabemos. Só que início da história de Buiú, de apenas 12 anos, que roubou um ônibus para ver o pai, acaba passando (quase) despercebido.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Velho Mercado


   Manhã cinzenta de sábado na Lapa. Uma imagem que representa a cidade de São Paulo como todo paulistano conhece. Os antigos galpões industriais, que fizeram parte do período do crescimento em larga escala da metrópole, hoje dão lugar a prédios abandonados, pequenos comércios e residências, todos divididos e distribuídos de maneira regular na irregularidade arquitetônica cinqüentenária do bairro.
   Sobrevivente à época do glamour paulistano, o Mercado da Lapa continua a fazer parte do cotidiano dos habitantes do bairro, sendo um dos principais centros de distribuição de produtos da cidade de São Paulo.

   O movimento na primeira parte do dia é sempre mais fraco, asseguram vários lojistas. A frase é tão uníssona quanto os sons dos materiais sendo descarregados, caixas batendo no chão, entregadores e lojistas dialogando quanto à distribuição.
   Devido á incessante busca por clientes, opto por não procurar conversa com os vendedores, que também não simpatizam muito em responder. Volto a apenas observar o ambiente. Particularmente o galpão, as lojas e a localização do Mercado acabam chamando mais a minha atenção do que os produtos vendidos.
   Apesar de uma organização simplificada, o Mercado é bastante arcaico em sua estrutura, o que dá um aspecto clássico, condizente coma decadência visível da localidade. É essa decadência que me fascina. O termina de ônibus, a linha do trem e o Mercado fazem uma combinação suburbana judiada pelo tempo, mantendo viva uma localidade que outrora fez parte da época de crescimento da cidade de São Paulo.
   Para completar minha primeira visita, nada melhor do que reunir os amigos em um bate papo regado a dois ‘pastel’ e um ‘refri’ e contemplar esta loclidade que representa São Paulo de uma maneira mais crua.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Fagulhas

   Um sentimento de tristeza acompanha os olhares dos milhares de moradores da favela do Real Parque, atônitos pelo incêndio cujas chamas se alastram cada vez mais rápido, destruindo os barracos pelo caminho.
   A fumaça que esvai pelos céus de São Paulo levam consigo não só os bens materiais, que já são mínimos. acompanhados dela, vão se esvaindo as fagulhas da vida de cada habitantes, tristes porque, mais uma vez, além de reconstruir seus lares terão de reconstruir suas vidas.