"EU AMO A RUA. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós." A alma encantadora das ruas - João do Rio
terça-feira, 26 de outubro de 2010
vo(z)cê!?
Depois de uma frustrada espera por um telefonema, decidi escrever, já que vejo mais futuro e funcionalidade nessa maneira de comunicação. Acho que talvez seja pela herança deixada pelo povo antigo a respeito de o papel ser documento respeitado e seguido e palavras ditas, o vento leva. Sendo ou não por influência, a vontade de escrever supera qualquer tentativa de explicação. Como protagonista você aparece quase sempre em meus pensamentos, invade todo o sistema e parte em um minuto de lucidez, passou, a rotina retomada em mais um dia de serviço que me controla e molda as cenas dos próximos capítulos. Eu já nem me reconheço mais. Sou tantos, tantas, tudo o que pensam de mim, e essa parte me encomoda a ponto de causar em mim um arrependimento. Poderia eu ficar em silêncio, a ânsia passaria, aquela vontade cessaria, eu só teria de ficar muda, parada, estagnada e assim como tudo passa, o meu entusiasmo daria lugar a serenidade de quem estreiou apenas uma vez na vida.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Linha Tiradentes-Esperança
Um ônibus vazio está circulando em alta velocidade na Avenida Ragueb Chofi, zona leste paulistana. A polícia inicia uma perseguição após receber uma denuncia de que o mesmo havia sido roubado algumas horas antes na parada final da Estação Tiradentes. Ate então, um fato nada fora do comum em uma cidade como São Paulo, imersa em um caos urbano e social que nos faz perder as contas de tantas atrocidades que acabam se tornando banais aos nossos olhos.
O assaltante, ao perceber o avanço policial em sua direção, perde o controle do veículo e colide com outro ônibus, por coincidência ou destino, pertencente à mesma companhia do veiculo furtado. Com a situação sob controle, os policiais efetuam a prisão do assaltante.
Porém, a surpresa se dá no exato momento da prisão. O criminoso é reconhecido pelo motorista do outro ônibus envolvido na colisão. Ele não trabalhava lá, é apenas conhecido por todos os funcionários da companhia, sendo chamado de Buiú pelos mesmos.
Outro fato nada absurdo, alguém se aproveitar dessa situação favorável de confiança para poder cometer um crime.
Até aqui, temos simplesmente um assalto relatado de maneira crua e direta, sem nos envolvermos em causas e conseqüências provenientes do fato. Mas qual seria sua reação se soubesse que Buiú é o mais velho de cinco irmãos e vem de uma família pobre da periferia de São Paulo? Provavelmente nenhuma diferente da reação inicial.
Ao ser encaminhado para o 54º Distrito Policial, Buiú é encaminhado a uma UAI (Unidade de Atendimento Inicial) da FEBEM, ficando na companhia de criminosos do mesmo calibre como assassinos e estupradores, até que aguarde a chegada de uma responsável, por se tratar, obviamente, de um menor de idade.
Creio que agora essa história possa chamar mais atenção, pois, pelo que temos até agora é a prisão de um menor chamado Buiú, de origem humilde, que roubou um ônibus e foi preso. Um roubou premeditado, pois foi reconhecido por uma das vítimas.
Sua mãe, Silvia Ribeiro da Silva, vem ao seu encontro após seis dias preso. Não esperava que seu filho fosse ir para o lado da criminalidade. Ainda mais depois que seu marido abandonou a família, esperava que o mais velho honrasse as funções de homem da casa.
A diretora da unidade, Sonia Cesário, percebe que o assaltante está emocionado ao ver a mãe reprovando sua atitude e assim entendendo a gravidade do que fez.
Prometendo voltar aos estudos, Buiú sonha em ser um motorista de ônibus assim como o pai. Confessa que o motivo do roubo era saber do paradeiro do pai, que não tinha contato há mais de cinco anos. Ao saber de uma pista da possível localização dele, Buiú e aproveitou-se de uma distração do motorista no Terminal Tiradentes, durante uma parada e furtou o veículo.
O término da história nós já sabemos. Só que início da história de Buiú, de apenas 12 anos, que roubou um ônibus para ver o pai, acaba passando (quase) despercebido.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Velho Mercado
Manhã cinzenta de sábado na Lapa. Uma imagem que representa a cidade de São Paulo como todo paulistano conhece. Os antigos galpões industriais, que fizeram parte do período do crescimento em larga escala da metrópole, hoje dão lugar a prédios abandonados, pequenos comércios e residências, todos divididos e distribuídos de maneira regular na irregularidade arquitetônica cinqüentenária do bairro.
Sobrevivente à época do glamour paulistano, o Mercado da Lapa continua a fazer parte do cotidiano dos habitantes do bairro, sendo um dos principais centros de distribuição de produtos da cidade de São Paulo.
O movimento na primeira parte do dia é sempre mais fraco, asseguram vários lojistas. A frase é tão uníssona quanto os sons dos materiais sendo descarregados, caixas batendo no chão, entregadores e lojistas dialogando quanto à distribuição.
Devido á incessante busca por clientes, opto por não procurar conversa com os vendedores, que também não simpatizam muito em responder. Volto a apenas observar o ambiente. Particularmente o galpão, as lojas e a localização do Mercado acabam chamando mais a minha atenção do que os produtos vendidos. Apesar de uma organização simplificada, o Mercado é bastante arcaico em sua estrutura, o que dá um aspecto clássico, condizente coma decadência visível da localidade. É essa decadência que me fascina. O termina de ônibus, a linha do trem e o Mercado fazem uma combinação suburbana judiada pelo tempo, mantendo viva uma localidade que outrora fez parte da época de crescimento da cidade de São Paulo.
Para completar minha primeira visita, nada melhor do que reunir os amigos em um bate papo regado a dois ‘pastel’ e um ‘refri’ e contemplar esta loclidade que representa São Paulo de uma maneira mais crua.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Fagulhas
Um sentimento de tristeza acompanha os olhares dos milhares de moradores da favela do Real Parque, atônitos pelo incêndio cujas chamas se alastram cada vez mais rápido, destruindo os barracos pelo caminho.
A fumaça que esvai pelos céus de São Paulo levam consigo não só os bens materiais, que já são mínimos. acompanhados dela, vão se esvaindo as fagulhas da vida de cada habitantes, tristes porque, mais uma vez, além de reconstruir seus lares terão de reconstruir suas vidas.
A fumaça que esvai pelos céus de São Paulo levam consigo não só os bens materiais, que já são mínimos. acompanhados dela, vão se esvaindo as fagulhas da vida de cada habitantes, tristes porque, mais uma vez, além de reconstruir seus lares terão de reconstruir suas vidas.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Nunca esta casa esteve tão vazia
Nascida no vilarejo onde hoje se localiza a fazenda Comprida, no oeste baiano, Marcolina de Miranda Pacheco se locomoveu com seus marido e filhos para outro vilarejo na mesma sertania árida do Agreste.
Marcolina, ou Dona Preta (como é carinhosamente chamada por todos que conhecem) e seu marido Manoel de Souza Pacheco, já falecido, levavam uma vida difícil, situação proporcionada pelas questões socioeconômicas desfavoráveis do nordeste, à época uma situação vivida por todos os habitantes da região, cujos problemas perduram nos dias atuais.
Quando chego para visitá-la, Dona Preta mostra um misto de felicidade e timidez, pois é vaidosa. Gosta de tudo organizado, ainda mais quando chega um neto. A timidez aparece pelo fato de eu trazer minha namorada, ainda mais inesperada do que a minha visita.
Entrando pela casa, tropeço em um dos cachorros, novos pra mim. Minhas lembranças remetem ao velho Guaraná, que também já se foi. Velho companheiro de “Mané Pacheco”, em suas expedições mata adentro.
O cacarejar das galinhas não atrapalha o som das folhas na primeira brisa do inicio da tarde. Porém essa brisa não alivia em nada o calor insuportável da região.
Na verdade não alivia para mim, habitado por toda a vida em São Paulo, visto que Dona Preta parece nem perceber. Tanto que, de imediato, prepara um café e separa pedaços de requeijão que, misturadas a temperatura local, o estomago não acostumado pode sofrer um pouco.
Após preparar o café, direciona-se para cuidas das plantas, alimentar sua gata (ainda a mesma, cujo nome desconheço até hoje, mas mostra uma fidelidade incomum) enquanto fico contemplando toda a casa e relembrando as incontáveis histórias.
Cansada, mas contente, Dona Preta retorna para a sala onde está localizada uma caixa com fotos que ajudarão durante a conversa e ainda mais nos seus momentos de solidão na velha casa.
Dona Preta levou uma vida difícil, mas se sente completamente realizada ao relembrar os caminhos de toda sua família. Ao falar dos filhos, sua contagem é a mesma feita por muitas mulheres que viveram nas mesmas condições: teve 12 filhos vivos e 1 morto. Este único chamado Lucas, o caçula. O xodó. Mas, calejada, mostra uma conformidade ao falar do tio que não conheci, não derrama lágrima, mas a caída do olhar já mostra todo o pesar de uma mão que perdeu o filho.
Em compensação, o sorriso resplandece de imediato ao falar de filhos, netos e bisnetos. Ao olhar pra minha namorada Priscila, solicita, aos risos, outro bisneto, para nossa apreensão.
Todos os seus filhos tiveram como destino a cidade de São Paulo. Aos poucos foram se mudando para diferentes cidades do estado. Os homens se especializaram no mesmo ramo industrial, estabelecendo-se todos na serralheria. As mulheres da casa também tentaram a sorte em São Paulo. Elas se casaram, por ironia, coincidência ou conseqüência, com serralheiros.
Ao relembrar os netos, estende-se ainda mais na felicidade, onde se orgulha de cada um pela simples fato de existirem. Seus bisnetos a fazem lembrar de sua longevidade, completamente fora das expectativas de que nasceu na pobreza nordestina dos anos 20. Muitas mulheres, como sua própria mãe, chegavam, se muito aos 40. Junho passado completou 80.
A conversa é interrompida. Já são aproximadamente três da tarde. Hora da novela. Aproveito o tempo para rever aspectos da residência que dão mais vivacidade a historia contada por Dona Preta.
O chapéu de couro do “seu Mané Pacheco” está na mesma posição, colocado no suporte ao lado da porta após a chegada de mais um dia de trabalho árduo na roça. Mesmo após 13 anos do seu falecimento, dá a impressão de que ele vai voltar para buscá-lo.
Alguns cômodos mudaram, outros continuam do mesmo jeito. Algumas modificações são justificáveis pela adequação aos habitantes da residência ao longo dos 40 anos, já outros continuam intactos, como o quarto do casal, por exemplo.
Nos fundos da casa, procuro pelo lago onde, além da função primordial para uma área onde a água esta longe de ser abundante, é o cenário de memórias mais vivo que tenho de lá. Brincadeiras, os (não muito desejados) banhos de “cuia” e a visualização de toda a natureza selvagem propiciada pela região. Um misto de alegria e melancolia transborda em meus olhos. A novela já acabou. Volto à conversa.
Ao mesmo tempo em que adentro a casa, alguns moradores da região já estão a conversar com Dona Preta. Visitas a ela continuam diariamente, mas, mesmo com a constante presença de pessoas, a casa nunca foi tão vazia.
Lembramos de festas, visitas a São Paulo, conflitos familiares, assuntos de doce lembrança e outros nem tanto.
Escutamos um ruído do automóvel chegando. Hora da despedida. Apesar das visitas constantes, e sempre uma hora desagradável. Durante o firme abraço, promessas e benção divina mútua, tanto para proteger nossa volta quanto protegê-la em sua solidão. Ela reitera que não está sozinha, que está com Deus; apesar de sentir saudades, não pode deixar seu lar, que via ficar até o fim. Fim que está tão longe quanto a distancia de quem ama. E assim se despede acenando de longe, com um sorriso cansado de alguém vai voltar a uma casa que nunca esteve tão vazia.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Estou convencido que nem a ciência nem a tecnologia podem satisfazer as necessidades espirituais a que todas as possíveis religiões procuram atender.Arnold Toynbee
Mente, corpo e espírito
Três elementos que se juntam com a responsabilidade de engenhar um ser humano. Técnicas nascidas de ideias abstratas concretizadas por falares populares. Vivências diplomáticas que partem da observação natural criadas sabe lá por quem. Mas não podemos negar a presença de algo maior, talvez seja isso, a liberação de energia cibernética que une as partes equilibrando cada existência.
ON, sílaba universal utilizada para evocar “Deus” no auxílio metal, corporal e espiritual da inspiração/meditação. Viver o corpo em desacordo com a mente e espírito pode ser a explicação para uma sociedade que não sente, ou ser só espírito, uma comunidade carente de ações, ora mente, e teremos “Marcolas” para todos os lados?!
Hoje, professora de Yoga, ela conversa sobre suas experiências
O que percebeu que não vale a pena? — Não existe nada que não valha a pena, tudo é experiência em nossas vidas. Sempre autêntica, garante que passou a vida a observar e hoje é o que emprega a cada suspiro. Aos que aguardam o segredo para subir os degraus, fica a importância de ter fé em si mesmo. —Criei meus filhos sem muitas coisas abstratas, a confiança em si torna as coisas concretas. Ver a vida todos os dias, em todos os momentos, enquanto estiver alma, cumpre o enredo que nos faz personagens de uma saga moral e ética, mas que abarca o mal também, temos que saber trabalhar isso.
Do outro lado
Com 68 anos a completar, vivendo calorosamente as primaveras, Maria Amélia Montoni Guedes, começou como radialista há 55 anos, 5 décadas que lhe asseguram um olhar diferenciado sobre os principais acontecimentos que movimentam a engrenagem da máquina social. Mãe de 5 filhos, esposa e avó dedicada, vê a era da informática, como a geração de informação em massa, e assuntos desencontrados — Devemos juntar tudo e tirar proveito, mesmo sendo uma tarefa difícil. Com 50 anos de trabalhos sociais, diz que não é tão simples. A complexidade está em dar esclarecimentos, algo que agregue às pessoas, não podendo ser confundido com assistencialismo sem deveres, pois todos temos obrigações enquanto cidadãos. É possível ser integralmente profissional e mãe? — É possível desde que consigamos fazer com que a família participe de nossas atividades. A comunicação é importante, aliás, é o que nos diferencia do mundo animal. Mas é claro que não é fácil, pois temos que lidar com comportamentos.
Já o jornalismo é a vertente que, segundo Amélia, faz com que aprendamos a reconhecer as duas faces da moeda, a impessoalidade sem comprometer a profundidade no assunto. Passar a informação verdadeira, disponibilizando o tempo à defesa para que não caia no escuro e permaneça lá uma vida inteira, prejudicando pessoas e a própria informação.
Em sua carreira encontrou apoio para a felicidade que define: — Instantes durante a vida, momentos que acontecem por vezes ou em apenas um dia. E completa: —Sei exatamente a medida por ter vivido também, momentos infelizes.
Três elementos que se juntam com a responsabilidade de engenhar um ser humano. Técnicas nascidas de ideias abstratas concretizadas por falares populares. Vivências diplomáticas que partem da observação natural criadas sabe lá por quem. Mas não podemos negar a presença de algo maior, talvez seja isso, a liberação de energia cibernética que une as partes equilibrando cada existência.
ON, sílaba universal utilizada para evocar “Deus” no auxílio metal, corporal e espiritual da inspiração/meditação. Viver o corpo em desacordo com a mente e espírito pode ser a explicação para uma sociedade que não sente, ou ser só espírito, uma comunidade carente de ações, ora mente, e teremos “Marcolas” para todos os lados?!
Hoje, professora de Yoga, ela conversa sobre suas experiências
O que percebeu que não vale a pena? — Não existe nada que não valha a pena, tudo é experiência em nossas vidas. Sempre autêntica, garante que passou a vida a observar e hoje é o que emprega a cada suspiro. Aos que aguardam o segredo para subir os degraus, fica a importância de ter fé em si mesmo. —Criei meus filhos sem muitas coisas abstratas, a confiança em si torna as coisas concretas. Ver a vida todos os dias, em todos os momentos, enquanto estiver alma, cumpre o enredo que nos faz personagens de uma saga moral e ética, mas que abarca o mal também, temos que saber trabalhar isso.
Do outro lado
Com 68 anos a completar, vivendo calorosamente as primaveras, Maria Amélia Montoni Guedes, começou como radialista há 55 anos, 5 décadas que lhe asseguram um olhar diferenciado sobre os principais acontecimentos que movimentam a engrenagem da máquina social. Mãe de 5 filhos, esposa e avó dedicada, vê a era da informática, como a geração de informação em massa, e assuntos desencontrados — Devemos juntar tudo e tirar proveito, mesmo sendo uma tarefa difícil. Com 50 anos de trabalhos sociais, diz que não é tão simples. A complexidade está em dar esclarecimentos, algo que agregue às pessoas, não podendo ser confundido com assistencialismo sem deveres, pois todos temos obrigações enquanto cidadãos. É possível ser integralmente profissional e mãe? — É possível desde que consigamos fazer com que a família participe de nossas atividades. A comunicação é importante, aliás, é o que nos diferencia do mundo animal. Mas é claro que não é fácil, pois temos que lidar com comportamentos.
Já o jornalismo é a vertente que, segundo Amélia, faz com que aprendamos a reconhecer as duas faces da moeda, a impessoalidade sem comprometer a profundidade no assunto. Passar a informação verdadeira, disponibilizando o tempo à defesa para que não caia no escuro e permaneça lá uma vida inteira, prejudicando pessoas e a própria informação.
Em sua carreira encontrou apoio para a felicidade que define: — Instantes durante a vida, momentos que acontecem por vezes ou em apenas um dia. E completa: —Sei exatamente a medida por ter vivido também, momentos infelizes.
Terra da Garoa
Terra da garoa
A cidade de São Paulo com todos encantos, escândalos e IBOPEs, guarda nela o pólem da microssociedade que a faz reviver a vitalidade de forma a permanecer sempre grande. Um de seus minuciosos mistérios transita nos ares da Lapa. Coberto de massa cinzenta e maciça, estrutura uma variedade de tendências básicas para a vida moderna. O Mercado Municipal da Lapa “Rinaldo Rivetti” é uma coletânea de gostos, escolhas, tecnologia em contraste com sementes primitivas de benefícios narrados e olhares. Olhares que nos estigam a pensar melhor, ou ao menos, pensar diferente. Olhares como os daqueles rapazes que continham um visco despretensioso em relação à rotina de um dia de sábado pela manhã.
PAPO DE HOMEM
Fabrício, cujo nome verdadeiro é Flávio, 23; Adriano, 29 e Alexandre, 27; ambos Estoquistas de uma empresa situada nas mediações, encontraram no Mercado um espaço que contemplasse a sede por uma vida mais justa sem que para isso tivesse que transpirar toda a esperança em viver a essência de tudo. — Aqui é o lugar que podemos beber uma cervejinha, falar sobre o serviço, mulher e política, por que não! Comenta desconfiado Adriano.
O retrato de uma juventude vigorosa, parceiros da sociedade da informação em meio ao entre e sai de pessoas a procura de novidades, especiarias ou a fim de um passeio descontraído e enriquecedor. — Nesse Mercadão tem cada coisa. Flávio se referindo a algumas “figuras” extravagantes, desmanteladas, de aparência ou sem nenhuma, mas que o sorriso, em comum, estampa seus rostos.
Naquele sábado o que faltava, de repente aconteceu. A ilustre presença de um tal político que se dizia vinculado ao esporte. De imediato os meninos questionaram — A contratação foi em qual time? Em que segmento do esporte? (ironizavam)
Contentes brindaram mais uma cena que coloria aquele ambiente que proporcionava-lhes a oportunidade de serem eles mesmos. Sem máscaras, na simplicidade que transbordava em cada segundo de alívio por ser um SER, não um número, um resultado, um comportamento, um elogio, um cliente ou vendedor; mas por serem humanos, corinthianos (qualquer um real nos basta, diziam na modéstia), Homens com H maiúsculo.
A cidade de São Paulo com todos encantos, escândalos e IBOPEs, guarda nela o pólem da microssociedade que a faz reviver a vitalidade de forma a permanecer sempre grande. Um de seus minuciosos mistérios transita nos ares da Lapa. Coberto de massa cinzenta e maciça, estrutura uma variedade de tendências básicas para a vida moderna. O Mercado Municipal da Lapa “Rinaldo Rivetti” é uma coletânea de gostos, escolhas, tecnologia em contraste com sementes primitivas de benefícios narrados e olhares. Olhares que nos estigam a pensar melhor, ou ao menos, pensar diferente. Olhares como os daqueles rapazes que continham um visco despretensioso em relação à rotina de um dia de sábado pela manhã.
PAPO DE HOMEM
Fabrício, cujo nome verdadeiro é Flávio, 23; Adriano, 29 e Alexandre, 27; ambos Estoquistas de uma empresa situada nas mediações, encontraram no Mercado um espaço que contemplasse a sede por uma vida mais justa sem que para isso tivesse que transpirar toda a esperança em viver a essência de tudo. — Aqui é o lugar que podemos beber uma cervejinha, falar sobre o serviço, mulher e política, por que não! Comenta desconfiado Adriano.
O retrato de uma juventude vigorosa, parceiros da sociedade da informação em meio ao entre e sai de pessoas a procura de novidades, especiarias ou a fim de um passeio descontraído e enriquecedor. — Nesse Mercadão tem cada coisa. Flávio se referindo a algumas “figuras” extravagantes, desmanteladas, de aparência ou sem nenhuma, mas que o sorriso, em comum, estampa seus rostos.
Naquele sábado o que faltava, de repente aconteceu. A ilustre presença de um tal político que se dizia vinculado ao esporte. De imediato os meninos questionaram — A contratação foi em qual time? Em que segmento do esporte? (ironizavam)
Contentes brindaram mais uma cena que coloria aquele ambiente que proporcionava-lhes a oportunidade de serem eles mesmos. Sem máscaras, na simplicidade que transbordava em cada segundo de alívio por ser um SER, não um número, um resultado, um comportamento, um elogio, um cliente ou vendedor; mas por serem humanos, corinthianos (qualquer um real nos basta, diziam na modéstia), Homens com H maiúsculo.
Asfalto
Mente, corpo e espírito
Três elementos que se juntam com a responsabilidade de engenhar um ser humano. Técnicas nascidas de ideias abstratas concretizadas por falares populares. Vivências diplomáticas que partem da observação natural criadas sabe lá por quem. Mas não podemos negar a presença de algo maior, talvez seja isso, a liberação de energia cibernética que une as partes equilibrando cada existência.
ON, sílaba universal utilizada para evocar “Deus” no auxílio metal, corporal e espiritual da inspiração/meditação. Viver o corpo em desacordo com a mente e espírito pode ser a explicação para uma sociedade que não sente, ou ser só espírito, uma comunidade carente de ações, ora mente, e teremos “Marcolas” para todos os lados?!
Hoje, professora de Yoga, ela conversa sobre suas experiências
O que percebeu que não vale a pena? — Não existe nada que não valha a pena, tudo é experiência em nossas vidas. Sempre autêntica, garante que passou a vida a observar e hoje é o que emprega a cada suspiro. Aos que aguardam o segredo para subir os degraus, fica a importância de ter fé em si mesmo. —Criei meus filhos sem muitas coisas abstratas, a confiança em si torna as coisas concretas. Ver a vida todos os dias, em todos os momentos, enquanto estiver alma, cumpre o enredo que nos faz personagens de uma saga moral e ética, mas que abarca o mal também, temos que saber trabalhar isso.
Do outro lado
Com 68 anos a completar, vivendo calorosamente as primaveras, Maria Amélia Montoni Guedes, começou como radialista há 55 anos, 5 décadas que lhe asseguram um olhar diferenciado sobre os principais acontecimentos que movimentam a engrenagem da máquina social. Mãe de 5 filhos, esposa e avó dedicada, vê a era da informática, como a geração de informação em massa, e assuntos desencontrados — Devemos juntar tudo e tirar proveito, mesmo sendo uma tarefa difícil. Com 50 anos de trabalhos sociais, diz que não é tão simples. A complexidade está em dar esclarecimentos, algo que agregue às pessoas, não podendo ser confundido com assistencialismo sem deveres, pois todos temos obrigações enquanto cidadãos. É possível ser integralmente profissional e mãe? — É possível desde que consigamos fazer com que a família participe de nossas atividades. A comunicação é importante, aliás, é o que nos diferencia do mundo animal. Mas é claro que não é fácil, pois temos que lidar com comportamentos.
Já o jornalismo é a vertente que, segundo Amélia, faz com que aprendamos a reconhecer as duas faces da moeda, a impessoalidade sem comprometer a profundidade no assunto. Passar a informação verdadeira, disponibilizando o tempo à defesa para que não caia no escuro e permaneça lá uma vida inteira, prejudicando pessoas e a própria informação.
Em sua carreira encontrou apoio para a felicidade que define: — Instantes durante a vida, momentos que acontecem por vezes ou em apenas um dia. E completa: —Sei exatamente a medida por ter vivido também, momentos infelizes.
Três elementos que se juntam com a responsabilidade de engenhar um ser humano. Técnicas nascidas de ideias abstratas concretizadas por falares populares. Vivências diplomáticas que partem da observação natural criadas sabe lá por quem. Mas não podemos negar a presença de algo maior, talvez seja isso, a liberação de energia cibernética que une as partes equilibrando cada existência.
ON, sílaba universal utilizada para evocar “Deus” no auxílio metal, corporal e espiritual da inspiração/meditação. Viver o corpo em desacordo com a mente e espírito pode ser a explicação para uma sociedade que não sente, ou ser só espírito, uma comunidade carente de ações, ora mente, e teremos “Marcolas” para todos os lados?!
Hoje, professora de Yoga, ela conversa sobre suas experiências
O que percebeu que não vale a pena? — Não existe nada que não valha a pena, tudo é experiência em nossas vidas. Sempre autêntica, garante que passou a vida a observar e hoje é o que emprega a cada suspiro. Aos que aguardam o segredo para subir os degraus, fica a importância de ter fé em si mesmo. —Criei meus filhos sem muitas coisas abstratas, a confiança em si torna as coisas concretas. Ver a vida todos os dias, em todos os momentos, enquanto estiver alma, cumpre o enredo que nos faz personagens de uma saga moral e ética, mas que abarca o mal também, temos que saber trabalhar isso.
Do outro lado
Com 68 anos a completar, vivendo calorosamente as primaveras, Maria Amélia Montoni Guedes, começou como radialista há 55 anos, 5 décadas que lhe asseguram um olhar diferenciado sobre os principais acontecimentos que movimentam a engrenagem da máquina social. Mãe de 5 filhos, esposa e avó dedicada, vê a era da informática, como a geração de informação em massa, e assuntos desencontrados — Devemos juntar tudo e tirar proveito, mesmo sendo uma tarefa difícil. Com 50 anos de trabalhos sociais, diz que não é tão simples. A complexidade está em dar esclarecimentos, algo que agregue às pessoas, não podendo ser confundido com assistencialismo sem deveres, pois todos temos obrigações enquanto cidadãos. É possível ser integralmente profissional e mãe? — É possível desde que consigamos fazer com que a família participe de nossas atividades. A comunicação é importante, aliás, é o que nos diferencia do mundo animal. Mas é claro que não é fácil, pois temos que lidar com comportamentos.
Já o jornalismo é a vertente que, segundo Amélia, faz com que aprendamos a reconhecer as duas faces da moeda, a impessoalidade sem comprometer a profundidade no assunto. Passar a informação verdadeira, disponibilizando o tempo à defesa para que não caia no escuro e permaneça lá uma vida inteira, prejudicando pessoas e a própria informação.
Em sua carreira encontrou apoio para a felicidade que define: — Instantes durante a vida, momentos que acontecem por vezes ou em apenas um dia. E completa: —Sei exatamente a medida por ter vivido também, momentos infelizes.
Funhouse¹
Poderia escrever sobre alguma rua do bairro em que moro atualmente. Resolvi não fazê-lo pois não seria algo natural, pois ainda não me apeguei a ela. Ou poderia escrever sobre a rua em que nasci. Poderia sim (confesso que houve tentativas), mas também não fluiria tão bem quanto escrever sobre uma rua especial, que moldou minha atitude.
Nunca morei na Rua Augusta. E confesso que minhas tentativas de escrever sobre outra rua foram iniciadas sob o pretexto de fugir dos padrões e estereótipos já paradigmáticos a esta via de extrema importância para outra a cultura paulistana.
Foi lá onde a minha vida começou a ter uma direção. Desde os 16 anos, a maior parte das minhas lembranças, boas ou ruins, estão na Augusta.
Este logradouro famoso na Paulicéia é transpassado por várias ruas e alamedas ao longo de seu caminho, mas é a Avenida Paulista, o cartão postal da metrópole, o divisor dos “mundos” que fazem a fama da rua. Os dois cenários provenientes dessa cisão possuem belezas opostas na mesma rua, assim como faz o famoso rio Danúbio, onde linda cidade húngara de Budapeste espelha suas paisagens às margens do Rio.
Entretanto, é na direção oposta, ao atravessar a avenida e descer sentido Centro que me sinto completamente em casa. O rádio instalado em minha cabeça, que toca a trilha sonora da minha vida, dispara no último volume e Greg Graffin² grita o que devo fazer: "
Sim, uso minha mente. Ela fervilha. Ao caminhar, vou observando o grande encontro do underground, do baixo clero da sociedade, proveniente de todos os cantos do mundo. Todo o tipo de gente se agrupa em tribos, aldeias, grupos, gangues. Não sei exatamente como me referir, apenas observo cada indivíduo procurando semelhante.
A Augusta permite isso. A diversidade está lá, em todos os aspectos. Os “outsiders” se tornam “insiders”, passam a ter papel importante.
Sempre acompanhado com a melhor amiga do homem – cerveja, para os leigos – vou seguindo, passando por lojas de músicas, restaurantes e cinemas até chegar ao primeiro ponto, o Charm. Advogados, estudantes, engraxates, jornalistas e outros dialogam sobre questões envolvendo física quântica e idade média.
Depois de duas cervejas, vou ao bar seguinte, Ibotirama. Emos, Punks e Góticos discutem sobre Reggae, Jazz e Samba. Mas ainda não é aqui onde eu deveria estar. Outras duas e continuo meu caminho.
No meio do caminho, uma coletividade masculina vai se espalhando pelos neons fracos das casas, em busca de entretenimento para maiores. Melhor passar direto, senão não fica só em duas cervejas, e a dor de cabeça vai ser muito pior de que a de uma ressaca qualquer.
Quando vou passando pelo Inferno, metaleiros e rockabillys vão formando uma fila em busca de diversão. Ao me empolgar com
outro grito vem na minha cabeça, bem direto por sinal. O grito de: “É aqui, totó” é um aviso. Um aviso do outro lado da rua. No Outs é dia de
Era esse o lugar que estava procurando.
Quem sabe não consigo visualizar o “underground” diurno? Porque hoje só saio amanhã! E se a ressaca deixar.
¹referência direta à música de Iggy & the Stooges
²vocalista do Bad Religion
³ 1ª. Estrofe de A WALK, (Caminhada) do Bad Religion
Eu vou para uma caminhada,
Não daquelas de após o jantar
Eu vou usar minhas mãos
E eu vou usar minha mente
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