quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Linha Tiradentes-Esperança

Um ônibus vazio está circulando em alta velocidade na Avenida Ragueb Chofi, zona leste paulistana. A polícia inicia uma perseguição após receber uma denuncia de que o mesmo havia sido roubado algumas horas antes na parada final da Estação Tiradentes. Ate então, um fato nada fora do comum em uma cidade como São Paulo, imersa em um caos urbano e social que nos faz perder as contas de tantas atrocidades que acabam se tornando banais aos nossos olhos.

O assaltante, ao perceber o avanço policial em sua direção, perde o controle do veículo e colide com outro ônibus, por coincidência ou destino, pertencente à mesma companhia do veiculo furtado. Com a situação sob controle, os policiais efetuam a prisão do assaltante.

Porém, a surpresa se dá no exato momento da prisão. O criminoso é reconhecido pelo motorista do outro ônibus envolvido na colisão. Ele não trabalhava lá, é apenas conhecido por todos os funcionários da companhia, sendo chamado de Buiú pelos mesmos.

Outro fato nada absurdo, alguém se aproveitar dessa situação favorável de confiança para poder cometer um crime.

Até aqui, temos simplesmente um assalto relatado de maneira crua e direta, sem nos envolvermos em causas e conseqüências provenientes do fato. Mas qual seria sua reação se soubesse que Buiú é o mais velho de cinco irmãos e vem de uma família pobre da periferia de São Paulo? Provavelmente nenhuma diferente da reação inicial.

Ao ser encaminhado para o 54º Distrito Policial, Buiú é encaminhado a uma UAI (Unidade de Atendimento Inicial) da FEBEM, ficando na companhia de criminosos do mesmo calibre como assassinos e estupradores, até que aguarde a chegada de uma responsável, por se tratar, obviamente, de um menor de idade.

Creio que agora essa história possa chamar mais atenção, pois, pelo que temos até agora é a prisão de um menor chamado Buiú, de origem humilde, que roubou um ônibus e foi preso. Um roubou premeditado, pois foi reconhecido por uma das vítimas.

Sua mãe, Silvia Ribeiro da Silva, vem ao seu encontro após seis dias preso. Não esperava que seu filho fosse ir para o lado da criminalidade. Ainda mais depois que seu marido abandonou a família, esperava que o mais velho honrasse as funções de homem da casa.

A diretora da unidade, Sonia Cesário, percebe que o assaltante está emocionado ao ver a mãe reprovando sua atitude e assim entendendo a gravidade do que fez.

Prometendo voltar aos estudos, Buiú sonha em ser um motorista de ônibus assim como o pai. Confessa que o motivo do roubo era saber do paradeiro do pai, que não tinha contato há mais de cinco anos. Ao saber de uma pista da possível localização dele, Buiú e aproveitou-se de uma distração do motorista no Terminal Tiradentes, durante uma parada e furtou o veículo.

O término da história nós já sabemos. Só que início da história de Buiú, de apenas 12 anos, que roubou um ônibus para ver o pai, acaba passando (quase) despercebido.

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